Tarifaço de Trump: EUA são o maior produtor de etanol do mundo, mas precisam do Brasil para cumprir metas de redução de poluentes
11/07/2025
(Foto: Reprodução) EUA são segundo maior destino do etanol brasileiro, depois Coreia do Sul, mas indústria nacional já vinha buscando outros mercados. Veja também como ficam as exportações de açúcar. Usina de etanol e açúcar em Pitangueiras, SP
Jefferson Severiano Neves/EPTV
Os Estados Unidos são o segundo maior comprador do etanol brasileiro, depois da Coreia do Sul, mas com a taxação de 50% que Donald Trump impôs ao Brasil, o biocombustível nacional vai perder espaço.
"A tarifa pode representar um acréscimo de US$ 200 a US$ 250 por mil litros, tornando o etanol brasileiro praticamente não competitivo no mercado americano", diz Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócios.
➡️ Mas não é que vai faltar etanol nos EUA. Eles são os maiores produtores globais do biocombustível – o Brasil é o segundo – e, por lá, o produto até sobra.
Mas eles precisam importar o etanol brasileiro – que é menos poluente – para cumprir metas de redução de gases de efeitos de estufa de programas federais e estaduais, e ganharem créditos por isso (entenda abaixo).
Hoje, 60% do etanol importado pelos EUA é produzido no Brasil, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), de 2024. Em seguida, vem o Canadá, com 33%.
No caso do açúcar, o Brasil também vai perder espaço no mercado americano (veja no final da reportagem).
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Quantidade vendida de etanol em todo o ano de 2024.
Arte/g1
O g1 procurou a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) para entender quais serão os impactos aos produtores do Brasil, mas a entidade disse que ainda estuda a medida.
Em uma entrevista concedida ao g1, em maio, o presidente da associação, Evandro Gussi, disse que o Brasil já vinha se voltando a outros mercados, como a própria Coreia do Sul, além do Japão, que vem construindo uma política pública de mistura de etanol na gasolina.
🔎O importador americano paga, tradicionalmente, 2,5% para comprar o etanol brasileiro. Em abril, Trump impôs uma tarifa de 10% a todos os produtos nacionais, o que fez essa taxa subir para 12,5%. Mas, a partir de 1º de agosto, os importadores devem começar a pagar 52,5% pelo bicombustível brasileiro.
Por que os EUA compram etanol do Brasil?
"Os EUA têm programas de incentivo aos biocombustíveis, tanto a nível nacional, como o Renewable Fuel Standard, quanto estaduais, como é o caso da Califórnia", explica o analista da StoneX Brasil Marcelo Di Bonifacio Filho.
➡️E o etanol brasileiro é considerado mais sustentável em relação ao americano. E isso acontece por vários motivos, segundo o presidente da Unica.
Um deles é que a indústria brasileira usa o bagaço da própria cana-de-açúcar para produzir energia elétrica e vapor dentro das usinas, o que gera uma emissão de dióxido de carbono (CO2) muito menor em relação ao gás natural e à rede elétrica que abastece as usinas dos EUA.
Um litro de etanol brasileiro emite, em média, cerca de 450 a 500 gramas de CO₂ equivalente, enquanto um litro de etanol americano pode emitir mais que o dobro disso, afirma a Unica.
Como o etanol deve encarecer muito para o americano, a tendência é que eles importem menos e deixem de cumprir metas de descarbonização.
"Esse cenário vai resultar em uma menor remuneração para os participantes no mercado americano que dependem desses programas de incentivo a biocombustíveis", diz Filho.
"O setor que mais vai perder nos EUA é o programa nacional de incentivo aos biocombustíveis", acrescenta.
Brasil busca outros mercados
Antes das tarifas, a indústria de etanol já vinha se atentando a outros mercados. Um deles é o Japão, que vem construindo uma política pública para misturar etanol na gasolina.
"O Japão decidiu misturar 10% de etanol na gasolina até 2030 e 20% até 2040. Essa decisão foi tomada porque, após estudos, o etanol foi considerado uma solução pronta, barata, rápida e eficaz para descarbonizar o transporte", explicou Gussi, em maio.
"As exportações efetivas de etanol brasileiro para o Japão devem começar dentro de poucos anos, quando a mistura na gasolina de fato acontecer", disse.
E o açúcar?
Apesar de não ser dependente dos EUA nas exportações de açúcar, o Brasil vai precisar encontrar outros mercados para direcionar o que já vende para lá, diz o analista da StoneX Brasil Marcelo Di Bonifacio Filho.
Assim como o etanol, o açúcar brasileiro vai perder competitividade nos EUA. Hoje, o Brasil é o segundo maior fornecedor desse produto para os americanos, depois do México.
🔎 O Brasil possui uma cota anual de 146,6 mil toneladas de açúcar que entram nos Estados Unidos sem tarifas adicionais. Acima desse volume, incide uma taxa de quase 80%. O setor ainda calcula como vai ficar a tarifa.
"O acréscimo de 50% sobre o preço do açúcar brasileiro tornará o produto significativamente mais caro para os importadores e consumidores americanos", afirma Carlos Cogo.
"Isso prejudica a competitividade do açúcar brasileiro frente a outros fornecedores, como México, Guatemala, União Europeia e Tailândia, que poderão ampliar sua participação no mercado americano", destaca.
Em 2024, por exemplo, o Brasil exportou 500 mil toneladas de açúcar para os americanos, o que representou 2,8% das exportações totais, mostram dados da Unica.
A China, que é a maior cliente do Brasil, representou cerca de 10% das exportações, com compras de 1,6 milhão de toneladas.
"O Brasil pode direcionar as exportações para a China, para a Indonésia, que também é uma grande importadora. Além dos países do Oriente Médio, principalmente os Emirados Árabes, que compram [o açúcar em bruto] para refinar e reexportar para regiões próximas", diz Filho.
Outros mercados importantes são os países da Norte da África, como a Argélia, que é a quarta maior compradora do Brasil, depois da China, Indonésia e Índia.
Infográfico - Entenda taxa de 50% anunciada por Trump ao Brasil e a relação econômica com os EUA.
Arte/g1
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